Quinta-feira, 12 de Janeiro de 2012
Capítulo 14 - "Nunca ninguém morreu por ser amado!"

 

 

 

À medida que o tempo passava, tudo foi aquietando, levando a uma dormência implacável da miscelânea de desassossegos que me torturavam o ser. Porém, a dormência não os fazia desaparecer. Mais cedo ou mais tarde teria de os desenterrar e confrontá-los.

No entanto, outra situação me acalentava muito mais do que qualquer outra e dessa não podia fugir: Ivan amava-me. Tentava ao máximo relativizar a situação, como se tratasse de algo temporário. Tentava convencer-me de que isso nada mudava. Porém, a verdade é que mudava tudo.

- Eu sempre te amei, Adriadne. Desde a primeira vez em que deitei os meus olhos em ti. O facto de tu o saberes nada muda – garantia-me. – Eu não te quero cobrar nada.

Não mais o deixei tocar-me. Não era justo fazê-lo amar alguém que nunca poderia ter tais semelhantes sentimentos por ele. Nenhum de nós merecia estar em tão perturbante situação.

Sempre que tentava estar comigo, ausentava-me para a praia. Ficava aí durante grande parte do dia e da noite, observando o bater das ondas na costa e imaginando o que Claire teria dito às outras. Perguntava-me se ainda me procuravam.

Duvidava. Talvez até tivessem feito um festim quando souberam do meu decesso. O povo deixaria de estar amaldiçoado. Talvez até a fome partisse, para honrar o alívio sentido. De qualquer modo, nada me levava a hesitar ao determinar de que esta era a solução correta.

E, após tais inquietantes conjeturas, voltava a casa, já quando a lua tomava o merecido protagonismo no céu noturno, certificando-me antes que Ivan já dormia, sonhando talvez com cenários muito mais agradáveis do que aqueles que vivia.

 

Acordei pois num outro dia. O sol raiava, iluminando a sala pelas suas pequenas janelas. Levantei-me e, antes que algum confronto pudesse surgir, dirigi-me para as traseiras, em direção à praia.

Porém, para meu infortúnio, assim eu cheguei à pequena e pálida cozinha, enfim estava ele, mastigando a sua torrada e bebericando o seu café de uma caneca velha e desenxabida.

Olhou-me perplexo, como se não me visse há mil anos, e sorriu-me um sorrir tímido, ao qual me faltou coragem para responder.

- Onde vais? – perguntou-me, assim que coloquei uma mão na maçaneta da porta das traseiras.

- Volto depois. – Foi tudo o que lhe disse.

Abri a porta e corri para a praia, parando apenas quando a pequena casa nada mais era senão um pequeno ponto, no meu campo de visão.

Deitei-me na areia aquecida pelo sol brilhante e observei calmamente as nuvens alvas a bailarem no céu empíreo.

Estava pronta para emergir em reflexões sóbrias e monótonas, quando o vi. Andava num passo apressado, quase correndo. Assim que tomei noção de tal, levantei-me e rapidamente comecei a andar no sentido oposto.

Ouvia os seus passos atrás de mim, mastigando a areia a cada passada. Aproximava-se cada vez mais. Sabia que devia correr, caso a minha vontade fosse de facto evitá-lo, porém, algo dentro de mim se agitou e impediu-me de o fazer.

Não demorou muito até ele me apanhar, fazendo-me rodar sobre os meus pés e tomando-me nos seus braços, ignorando a minha vontade.

- Larga-me! – gritei, sem a menor consideração por qualquer suscetibilidade, ao mesmo tempo que me tentava soltar do seu forte abraço.

Acabei por vencer e sentei-me de seguida na areia.

- Porque vieste então, Adriadne? Porque voltaste senão por mim e para mim?

Olhei para ele, assoberbada. As suas acusações não eram de todo justas ou adequadas.

- Isso não é justo. – Foi tudo o que consegui dizer.

- E isto é?! Como é que isto é justo para mim? Não é justo que fujas de mim sempre que surge um problema! Eu não o mereço.

- Eu perguntei-te se querias que eu partisse e tu devias ter dito que sim, se era isso que querias. Mas não te preocupes, ainda estás a tempo – disse presunçosamente.

- Pois, mas eu não quero! – exclamou, exaltado, perfurando o seu olhar no meu, para me levar a crer na veracidade das suas palavras. – Eu quero que pares de ser idiota e quero que pares de fugir dos teus problemas. Pois, caso ainda não tenhas reparado, nunca ninguém morreu por ser amado!

Suspirei de forma audível e ele sentou-se ao meu lado, colocando um braço à volta dos meus ombros. Pois, mesmo nos tempos mais críticos, Ivan conseguia suprimir as dificuldades com uma estranha afabilidade.

- Desculpa – pedi-lhe. – Não era a minha intenção magoar-te… Mas compreende que parte de mim (e uma parte muito forte) quer sentir o mesmo por ti, que tu sentes por mim. Mas tal não me é possível. Imaginas o quanto isso me custa? Não poder amar-te?

- Eu amo-te, Adriadne. Eu amo-te desde a primeira vez que te vi. E eu não te vou deixar de amar simplesmente porque tu não te achas capaz de me amar. O amor que eu sinto por ti, não é controlado de uma maneira tão elementar e científica.

- Perdoa-me, Ivan – supliquei-lhe, num suspiro. – Perdoa-me por não te amar.

- Shh… - sussurrou-me, silenciando-me, ao cobrir-me os lábios com um dedo imperativo. Dedo este que rapidamente foi substituído pelos seus lábios, que, movendo-se sobre os meus, traçavam um perfeito e demorado beijo, ao qual respondi de forma frenética, afagando-lhe o cabelo e o pescoços com as mãos. – Vamos para casa – sussurrou, enquanto passeava os lábios pelo meu longo e ebúrneo pescoço.

Segui-o até lá e logo entrámos pela pequena porta da cozinha. Encostou-me à fria parede de azulejo e enfeitou-me o rosto de beijos imensos.

Há muito que a minha mente se tinha desligado deste corpo, que se arrepiava a cada toque, a cada beijo.

Mergulhou as suas mãos quentes nas minhas costas macias e puxou a camisola cor de tijolo sobre a minha cabeça, atirando-a de uma vez para o chão.

Andou comigo até ao seu quarto, fazendo-me duvidar se de facto tocava com os pés no chão. Atirou-me para a sua cama, sem nunca separar os seus lábios dos meus. Acariciava-lhe as costas musculadas com as mãos e rapidamente lhe arranquei a camisola do tronco, que agora desnudado, se mostrava mais belo que nunca. No fundo, da minha mente, na parte que não estava inundada por ondas de uma prazer intenso e ebrioso, duvidava se alguma vez tivesse posto os olhos em alguém tão belo.

As suas mãos voltaram a passear pelas minhas costas, libertando-me agora do soutien, que em tempos, de tão boa vontade, me tinha apresentado.

Os nossos lábios, dantes juntos, separaram-se audivelmente, para os dele percorrerem o meu corpo, em beijos desenfreados, espalhados pelos meus seios e ventre, descendo até aos calções que vestia, que fez questão de desapertar com os dentes, arrancando-os das minhas pernas a uma velocidade que não julgava plausível para um humano. Também os dele não demoraram muito a desaparecer, se bem que de uma maneira menos selvagem. E, após os calções, seguiram-se as cuecas: as dele e as minhas.

Assim, por entre beijos e carícias que não mostravam fim ou limite, Ivan aprontou-se a mostrar-me todo o amor que por mim sentia.


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